Chamada Para Edição Especial: Pesquisas Participativas e Produção de Subjetividades em Territórios Escolares/Educacionais

2024-04-30

Os anos 80 marcaram uma virada teórico-epistemológica na Psicologia Escolar/Educacional brasileira, seja pelas aguçadas críticas às suas práticas e perspectivas, seja pelos questionamentos de seus compromissos e projetos. Com o processo de redemocratização do Brasil, junto da crise da Psicologia Social e a participação de uma atuação conjunta com movimentos sociais, temos a emergência de perspectivas críticas de estudos e pesquisas na interface Psicologia e Educação, mobilizando discussões sobre novas demandas e desafios. 

Os territórios escolares/educacionais foram deixando de ser campos que demandavam uma Psicologia desinteressada com os problemas institucionais, seja pelas representações psicologizantes, seja pelo seu reconhecimento como uma especialidade remediativa da saúde. Ao contrário, passou-se a considerar o lugar de uma Psicologia crítica implicada com uma atuação voltada para o enfrentamento do fracasso escolar brasileiro e da medicalização da educação, cujas explicações recrudesceram a desigualdade social e racial na medida em que privilegiavam explicações deterministas, psicopatológicas, internalizantes e culpabilizadoras da família.

Mais recentemente, com uma práxis pautada na micropolítica dos processos escolares, as práticas psi foram se engendrando em discutir e intervir nos fenômenos sociais que tinham como alvo a educação e a escola como objetos de ataque à democracia. Outro acontecimento importante para a atuação psi nas escolas foi também considerar a participação política como uma força dos movimentos estudantis, uma produção de pertencimento dos jovens com a instituição. Como outro destaque temos as intervenções da Psicologia no campo educacional durante a pandemia de Covid 19, decorrente do fechamento das escolas e obrigatória migração dos processos educacionais para o contexto remoto. Nunca se falou tanto de saúde mental no contexto escolar, demanda que perdura no contexto pós-pandêmico.

No âmbito das políticas públicas educacionais, não podemos deixar de considerar que a atuação psi é imprescindível no enfrentamento de problemas sociais em diversos contextos, e com isso, a recém Lei nº 13.935/2019 estabeleceu a presença obrigatória de psicólogos e assistentes sociais nos sistemas de ensino público de educação básica. 

Com o contorno teórico marcado pelo materialismo histórico, protagonista na virada epistêmica anteriormente citada, aos poucos outros cenários epistêmicos foram contribuindo para pensar as práticas psi no contexto educacional no Brasil: psicologia socio-histórica, pós-estruturalismo/estudos foucaultianos em educação, psicologia da libertação, estudos decoloniais, feminismo negro, interseccionalidade, e os estudos culturais e críticos da educação. Metodologicamente as atuações trazidas por estes contornos vêm sendo construídas, muitas vezes, através de pesquisas participativas (pesquisa-ação; pesquisa-intervenção; pesquisarCOM; cartografia; pesquisas narrativas; pesquisas etnográficas; educação popular).

Com  as pesquisas-participativas, tem-se a consolidação de outros  “objetos” e “desafios” para a Psicologia no âmbito educacional: projeto-político pedagógico, formação de professores, violências e vulnerabilidades socioeconômicos, relação escola-território, democracia e participação política, articulação com políticas públicas, direitos da criança/adolescente, medicalização da vida e ativismo dos sujeitos escolares. Soma-se, no últimos anos, as questões escolares/educacionais relativas à saúde mental em contexto pós-pandêmico, as formas de controle pelas tecnologias de informação e comunicação, as lutas decoloniais de indígenas, quilombolas/pretos, ribeirinhos, enfrentamento ao racismo, e questões de gênero e sexualidade que atravessam o território educacional. 

Assim, a presente chamada de Número Especial tem como objetivo propiciar um espaço dialógico de troca de experiências que discutam o contexto escolar e educacional brasileiro hodierno, com base nas questões acima elencadas. Serão aceitos artigos científicos oriundos de pesquisa, extensão, seja de graduação ou pós-graduação, de atuação profissional e/ou estágio em escolas ou equipamentos educacionais que, tenham como base, a pesquisa participativa em suas diferentes matrizes para pensar os desafios da interface Psicologia e Educação no contexto atual. 

O prazo para submissão é 31 de Julho de 2024 e os manuscritos devem ser enviados via internet, exclusivamente no website da Revista Interfaces (https://interfaces.unileao.edu.br/index.php/revista-interfaces/login). Toda e qualquer submissão será recebida sob a condição de que o material nunca foi publicado, nem está em avaliação por outro periódico. O processo de avaliação do manuscrito é a cega por pares, na qual preserva a identidade dos autores e consultores. 

As normas e orientações para submissão podem ser acessadas na página (https://interfaces.unileao.edu.br/index.php/revista-interfaces/about/submissions). O Número Especial “Número Especial Pesquisas Participativas e Produção de Subjetividade em Territórios Escolares/Educacionais” tem publicação prevista para Dezembro de 2024. Relatos de pesquisa precisam submeter o parecer do Comitê de Ética em Pesquisa como documento suplementar.

No momento da submissão, os autores deverão indicar na carta de apresentação que o referido manuscrito destina-se ao Número Especial Pesquisas Participativas e Produção de Subjetividade em Territórios Escolares/Educacionais.

Cronograma

*Sujeito a alterações de datas

Abertura de Chamada do Dossiê – Abril de 2024

Encerramento de envio dos manuscritos – Julho de 2024

Avaliação Ad Hoc (double blind review) – Agosto de 2024

Revisões e diagramação - Setembro de 2024

Previsão de Publicação do Dossiê – A partir de Setembro de 2024

Sobre os organizadores:

Luciana Lobo Miranda - Doutora em Psicologia pela PUC-RJ, com estágio doutoral no Programa de Ciência da Educação em Paris 8, França; estágio pós-doutoral no Programa de Psicologia Social Crítica e Personalidade pela City University of New York (CUNY), EUA. Professora Titular do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Coordenadora do Laboratório em Psicologia, Subjetividade e Sociedade (LAPSUS). Coordenadora do Projeto de Extensão É da Nossa Escola que falamos e do Projeto Artes Insurgentes: coletivizando resistência  (UFC). Pesquisadora de Produtividade do CNPQ (Nível 2). Membra Associada da ABRAPSO e da ABRAPEE. E-mail: [email protected]

Tadeu Lucas de Lavor Filho – Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisador do Laboratório em Psicologia, Subjetividade e Sociedade (LAPSUS). Membro do Projeto de Extensão É da Nossa Escola que falamos (UFC). Coordenador do Projeto de Extensão Artesanias Escolares e Saúde Mental (UECE). Professor da Universidade Estadual do Ceará, vinculado à Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI/UECE) e do Programa de Pós-graduação em Saúde Família (UECE/RENASF/FIOCRUZ). Membro Associado da ABRAPSO e da ABRAPEE. E-mail: [email protected]

José Alves de Souza Filho – Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor da Faculdade de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Líder do CAIS - Laboratório de Críticas por Ações e Estudos COM as Subjetividades. Membro Associado da ABRAPSO. E-mail: [email protected]

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Dr. Vanderlan Nogueira Holanda

Editor-Chefe da Revista Interfaces: Saúde, Humanas e Tecnologia